(Do livro “O Essencial do Candomblé”, de Ademir Barbosa Júnior/Dermes/Tata Obasiré)
A fim de apresentar algumas das principais cerimônias do múltiplo e diversificado universo do Candomblé, foram selecionados alguns rituais da Nação Ketu, os quais, de uma maneira ou de outro, também aparecem na liturgia das outras Nações.
Para diversos rituais do Candomblé, inclusive os xirês, pede-se a abstenção de álcool e que se mantenha o “corpo limpo” (expressão utilizada em muitos terreiros e que representa se abstenção de relações sexuais). No caso da abstenção de álcool, bem como de alimentos específicos, quando assim solicitado, o objetivo é manter a consciência desperta e não permitir abrir brechas para espíritos e energias com vibrações deletérias. No tocante à abstenção sexual, a expressão “corpo limpo” não significa que o sexo seja algo sujo ou pecaminoso: em toda e qualquer relação, mesmo a mais saudável, existe uma troca energética; o objetivo da abstenção, portanto, é que o médium mantenha concentrada a própria energia e não se deixe envolver, ao menos momentaneamente, pela energia de outra pessoa, em troca íntima.
O período dessas abstenções varia de casa para casa, mas geralmente é de um dia (pode ser da meia-noite do dia do trabalho até a “outra” meia-noite, ou do meio-dia do dia anterior ao trabalho até as 12h do dia seguinte ao trabalho etc.). Há períodos maiores de abstenções chamados de preceitos ou resguardos.
Ipadê
Ipadê é o ritual que antecede todos os demais, no qual o Orixá Exu é firmado como guardião do Axé, a fim de proteger a casa e as pessoas. Para tanto, são utilizadas comidas típicas de Exu, como o padê (farofa especialmente preparada), vela e água. Após cantos e danças, a quartinha com água, a vela e o padê são levados para fora do barracão. Os demais rituais têm prosseguimento.
Muitos candomblecistas consideram o Ipadê como o ato de despachar Exu, isto é, afastá-lo, a fim de não provocar confusões. Tal concepção aproxima-se mais da mitologia iorubana do que propriamente da Teologia e da Espiritualidade do Candomblé.
Xirê
Por meio do canto e da dança, os Orixás são reverenciados e convidados a participarem da festa. Também conhecido como roda de Candomblé
Em português, xirê pode ser traduzido como festa, brincadeira (1)
Rum
Trajados e paramentados com seus instrumentos, os Orixás dançam e reproduzem seus mitos e lendas. Trata-se da parte final de um xirê.
Provavelmente a denominação dessa parte da festa origina-se do nome do maior dos três tambores no Candomblé Jeje-nagô, o rum.
Bori
Bori é o ritual de alimentar a cabeça, o Ori (vimos acima que o Ori é tão importante como qualquer dos Orixás), para a iniciação religiosa, para equilíbrio, tomada de decisões, harmonização com os Orixás etc.
Em iorubá, borí pode ser traduzido como cultuar a cabeça de alguém.
Casamentos
Embora, como toda religião constituída, o Candomblé celebre casamentos, é comum também o filho-de-santo casar-se apenas no civil, ou o casamento religioso ser feito na Igreja Católica Apostólica Romana.
Sacudimentos
Ritual de limpeza espiritual com o intuito de expulsar energias negativas de pessoa ou ambiente. Para tanto, empregam-se folhas fortes que são batidas na pessoa ou no ambiente (“surra”), pólvora queimada no local em que se realiza o ritual e comidas e aves em contato com a pessoa ou o ambiente, os quais serão posteriormente oferecidos aos eguns. O ritual é completado com banho, no caso de pessoa, e com a defumação do corpo ou do local do sacudimento.
Obrigações
Cada vez mais se consideram as obrigações não apenas como um compromisso, mas, literalmente como uma maneira de dizer obrigado (a).
Em linhas gerais, as obrigações se constituem em oferendas feitas para, dentre outros, agradecer, fazer pedidos, reconciliar-se, isto é, reequilibrar a própria energia com as energias dos Orixás. Os elementos oferendados, em sintonia com as energias de cada Orixá, serão utilizados pelos mesmos como combustíveis ou repositores energéticos para ações magísticas (da mesma forma que o álcool, o alimento e o fumo utilizados quando o médium está incorporado). Daí a importância de cada elemento ser escolhido com amor, qualidade, devoção e pensamento adequado.
Existem obrigações menores e maiores, variando de terreiro para terreiro, periódicas ou solicitadas de acordo com as circunstâncias, conforme o tempo de desenvolvimento mediúnico e a responsabilidade de cada um com seus Orixás, com sua coroa, como no caso da saída (quando o médium deixa o recolhimento e, após período de preparação, apresenta solenemente seu Orixá, ou é, por exemplo, apresentado como sacerdote ou ogã) e outros. Embora cada casa siga um núcleo comum de obrigações fixadas e de elementos para cada uma delas, dependendo de seu destinatário, há uma variação grande de cores, objetos, características. Portanto, para se evitar o uso de elementos incompatíveis para os Orixás, há que se dialogar com a Espiritualidade e com os dirigentes espirituais, a fim de que tudo seja corretamente empregado ou, conforme as circunstâncias, algo seja substituído.
Axexê
O axexê é um conjunto de rituais funerários celebrado quando morrem pessoas importante de um terreiro, notadamente os pais e mães-de-santo.
Em iorubá, àjèjè significa uma cerimônia celebrada quando da morte de um caçador.
NOTA
(1) Minha dijina é Tata Obasiré. Nesse caso, Obasiré se forma de Obá + xirê, significando, portanto, o rei da brincadeira, o rei da festa. Não deve ser confundida com a saudação ao Orixá Obá.
*Deixa o xirê rodar!
Deixa a gira girar!
Dermes
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