domingo, 13 de novembro de 2011

Cambone e a arte de ser gentil







Para os queridos Maria Das Neves, Francisco, Cida, Lilian, Maria Maia e Sílvia.

Todos somos médiuns. Evidentemente, não de psicografia ou de incorporação, por exemplo. Mas todos somos canais de contato com outros planos, 
atraindo espíritos benfazejos e energias positivas, ou espíritos menos evoluídos e energias negativas. Tudo depende do canal, isto é, de nós mesmos. 
Num terreiro de Umbanda, o cambone (também conhecido comoo cambono/a cambona) constitui-se numa das sustentações da gira, assim como os pontos cantados, os toques e outros elementos. Daí a importância de seu trabalho consciente, calcado no Orai e vigiai preconizado pelo Mestre Jesus. Alguns exercem a função temporariamente, pois em breve começarão a incorporar. Outros, os que não incorporam, são convidados a exercê-la durante todo o tempo em que permanecerem no terreiro.
Para cambonear com mais eficiência e devoção, é necessário ser gentil. Com os Orixás, Guias e Guardiões certamente é mais fácil. Mas com os próprios médiuns da casa nem sempre, em especial com aqueles que costumam ditar ordens durante as giras, a despeito das orientações já recebidas pelos cambones dos pais e mães ou dos próprios Orixás, Guias e Guardiões. Por vezes, na ânsia de auxiliar (ou mostrar serviço...), irmãos menos esclarecidos desconcentram os cambones, até mesmo empurrando-os. Se o cambone perder a paciência, certamente baixará o padrão vibratório. Uma sugestão bem prática para esses casos é deixar 
para chamar depois da gira a atenção do irmão que atrapalhou. Quando isso não é possível, discretamente avisá-lo de que está atrapalhando.
Para a assistência o cambone é o espelho da casa, pois distribui senhas, encaminha os atendimentos e se comporta com discrição durante os passes e as consultas. Veja-se a importância de receber amorosamente a todos, sem distinção. E também com firmeza (o que não exclui a amorosidade) para se evitar tumulto, barulho e outros que possam atrapalhar a gira.
Durante os trabalhos, o cambone deve estar atento a tudo, ao gesto de um Guia o chamando, a alguma das crianças que possa ter ido ao banheiro sem ter avisado algum adulto, à porta do terreiro (se não há ninguém lá fora atrapalhando ou “vistoriando” veículos) etc. Enquanto percorre a casa com os olhos, certamente cantará pontos, baterá palmas, em colaboração com o coro/os Ogãs, uma vez que os demais médiuns estarão incorporados ou em desincorporação.
As funções do cambone nos recordam que, em Espiritualidade, todo trabalho consciente e sincero é bem-vindo. Um terreiro sem um pai ou uma mãe consciente, caminhará com dificuldade. O mesmo pode-se dizer de um terreiro em que os cambones se deixem levar pelo orgulho, pela falsa modéstia, pela fofoca, pela indiscrição. Mestre Jesus lavou os pés dos discípulos, a nos lembrar que, em Espiritualidade, função (Babá, Ogã, Cambone etc.) é serviço, não distinção.
O contato constante e direto com os Orixás, Guias, Guardiões (não importa!) é motivo de experiências amorosas, alegres e divertidas (embora, infelizmente, líderes religiosos nem sempre sejam bem-humorados, confundido seriedade com sisudez, a Espiritualidade amiga caminha em outro sentido). 
Lembro-me de uma médium que não levava para as giras os charutos pedidos por seu 
Caboclo, por seu Baiano etc., mas sim de outra qualidade. Como cambone, eu já lhe havia avisado, em particular. Numa gira, o Baiano e eu tentamos fazer o charuto “funcionar”. Depois de aceso, o Baiano me pediu para dar uma batidinha. 
Concentrado no charuto, dei umas batidinhas no charuto, ao que ele me disse “Não, aquela batidinha de beber!”. A cada gira, uma nova aventura...*
O termo cambone/cambono vem de Tata Cambono, o Ogã responsável, em terreiros bantos/Nação Angola, por dirigir a orquestra e puxar os cânticos. 
Aliás, na informalidade do vocabulário plural dos terreiros de Candomblé, já encontrei “Cambono” como o sinônimo “Angola” de Ogã, independentemente da função específica. Em minha casa de origem, o Ilê Iya Tundé, por exemplo, casa em que Ketu e Angola se mesclaram (a ialorixá vem do Ketu, mas há muitos anos, com o falecimento de seu babalorixá, virou para o Angola), onde se canta ora em “Angola”, ora em iorubá, ora em português, minha dijina (em iorubá) vem precedida de “Tata” (“Angola”): Tata Obasiré.
“Cambones, cambones meus/meus cambones/olha que Ogum vai ao ló.”
Gentileza abre portas e corações!
Deixa a gira girar!



Dermes

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