domingo, 13 de novembro de 2011

Espiritualidade e ego sutil.

De-maos-dadas-com-sucesso


O mundo da espiritualidade, das terapias holísticas e da religião é composto de seres humanos, portanto, passível de falhas. Segundo um mestre indiano, o ego sutil é o mais difícil de ser aceito, trabalhado, integrado. Além disso, existe uma grande tendência de fugir ao mundo cotidiano, telúrico, do corpo para vivenciar a espiritualidade, o que não seria nada holístico (corpo-mente-espírito).
Há um provérbio, não sei se cunhado por um mestre de ioga, segundo o qual mestres não são de açúcar. Costumo acrescentar: mas também não precisam ser amargos. Já ouvi/li dois mestres competentes de ioga brasileiros afirmarem que ninguém no país sabe mais dessa prática do que eles. Ao menos um dos dois está equivocado, não é?
Em meus contatos nas áreas de terapias holísticas, ecumenismo e diálogo inter-religioso tenho encontrado experiências de não-diálogo, as quais devem ser compreendidas com atentividade e compaixão. Certamente o (a) leitor (a) conhece ou vivenciou outras tantas, dolorosas e/ou divertidas. Cito apenas três a título de reflexão sobre a necessidade de diálogo e, ao mesmo tempo, de preservação da individualidade, do próprio espaço. De forma não muito amorosa, é verdade, aprendi muito com as interlocutoras citadas abaixo, pois, muitas vezes, os melhores mestres são os que nos ensinam a como não ser. A elas, meu carinho, minha gratidão e o desejo de muita prosperidade.
Quando perder tudo, não perca a lição (Dalai Lama)

Alguns reikianos e eu organizávamos um workhsop com uma veterinária mestra em Reiki. Um domingo de manhã recebi um recado de uma mestra em Reiki, com quem havia partilhado correspondência e a cujas perguntas havia respondido, segundo a qual não deveríamos divulgar o evento apenas pela internet, mas por outros meios. Respondi a ela que a internet havia sido apenas um dos meios e que os interessados tinham sido exatamente pessoas de outras cidades ou de outro estado, tendo sido quase nula a procura de moradores locais pelo workshop. A interlocutora, depois de rebater meus argumentos, retrucou que era especialista em organização de eventos (eu a conhecia como professora universitária, além de terapeuta holística) e que eu precisava ser humilde e reconhecer que não havia divulgado direito. Respondi amorosamente que às vezes os projetos não saem como desejamos, mas que o projeto do workshop em si havia sido muito importante para os envolvidos. Terminei meu texto com uma frase do Dalai Lama de que gosto muito: "Quando perder tudo, não perca a lição". Foi a gota d´água: minha interlocutora começou a escrever que poderia citar uma biblioteca inteira, que eu não sabia escrever (apontou erros e desvios gramaticais inexistentes, conforme pude conferir ao reler meu texto) e que não merecia mas ela me daria dicas, perguntando-se como aquela discussão inútil poderia acontecer numa manhã de domingo. Fiquei abalado, enviei-lhe mensagens, às quais ela respondeu com o mesmo "você não merece, mas eu vou ensinar", dizendo-me que eu dava muito valor à opinião dos outros. Nisso ela estava com a razão. Respondi que era verdade, que eu costumava ouvir a todo tipo de pessoa, mesmo as agressivas como ela. Pedi que não me mandasse mais mensagens daquele teor ou faria uma denúncia. Tentei conversar novamente com ela, noutros momentos, mas certamente sua agressividade não permitiu o diálogo.
Independentemente das atitudes de minha interlocutora, o que EU poderia ter feito para evitar confronto tão desgastante?
Não ter caído na armadilha de contra-argumentar com a primeira fala dela. Isso teria bastado para evitar o confronto. Conforme uma amiga mestra em Reiki e psicóloga sustentou, certamente a interlocutora, que dizia preparar um livro sobre Reiki e outra terapia holística, continuaria a desconsiderar a mim e a minha imagem enquanto literalmente chuparia informações já publicadas sobre meu trabalho com Reiki.
A conta não fecha
Quando preparava um livro sobre Numerologia, tive a ingenuidade de postar uma pergunta pontual numa comunidade virtual sobre o tema. Havia dúvidas em materiais consultados, e eu gostaria de partilhá-las com os colegas. Para minha surpresa, encontrei como resposta comentário de uma numeróloga, segundo quem a pergunta era de iniciante e por isso (mensagem dirigida aos membros da comunidade), quando o livro dela estivesse pronto, todas as dúvidas seriam dirimidas. Trocamos correspondência, na qual eu explicava a ela que, além de desnecessários os comentários como "você não entende do que está falando", as respostas dadas por ela não correspondiam àquilo de que eu tratava. Agradeci, deixei a correspondência de lado e, num sítio português, encontrei as respostas que buscava, pude confrontar fontes e orientações, disponibilizando para meus leitores pontos convergentes e divergentes.
Independentemente das atitudes de minha interlocutora, o que EU poderia ter feito para evitar confronto tão desgastante?
O mundo virtual, assim como o "real" parece carecer de aprendizes. Todos são mestres, gurus, iluminados. Nunca mais postei perguntas publicamente em comunidades virtuais, restringindo o diálogo a interlocutores escolhidos a dedo, com quem concordo ou de quem discordo de modo amoroso e sem desqualificar ninguém. Para um professor de Redação que há anos trabalha técnicas de argumentação, incomodam bastante falácia, senso comum, lugar-comum, desqualificação de interlocutores e outros. Contudo, por que esperar que tais atitudes, tão humanas, não se apresentariam no campo das terapias holísticas, da espiritualidade, da religião?
Virado pra Lua
Fazia um curso sobre a Lua. A professora explicava o conceito de progressão astrológica e como isso se manifesta no Tarô, na leitura conhecida como Roda Astrológica, na análise dos filhos dos consulentes. Comentei que havia aprendido de uma outra maneira. Imediatamente ela afirmou que quem me havia ensinado não entendia nada de Astrologia. Respondi que não era bem assim, que a pessoa possuía conhecimentos básicos de Astrologia e era professora de Tarô e Baralho Cigano, dentre tantas técnicas. Argumentei que assim como há cartas "trocadas" em diversos Tarôs (por exemplo, no de Marselha "A Justiça" é a carta VIII, enquanto a "A Força" é a carta XI; no de Waite isso se inverte), e como as tradições adaptam-se com o tempo, conceitos se perdem, se transformam etc., havia toda uma técnica, uma egrégora trabalhando as análises dos filhos de uma outra maneira, sem seguir à risca a progressão astrológica, cujo resultado sempre era positivo, conforme os consulentes. A professora aceitou meio ressabiada o argumento.
Independentemente das atitudes de minha interlocutora, o que EU poderia ter feito para evitar confronto tão desgastante?
Na realidade, nesse caso, não houve confronto desse tipo. Para mim, o mais desgastante foi o fato de eu ter indicado a professora para escrever um trabalho sob encomenda, explicando-lhe para ficar atenta às cláusulas do contrato, pois eu havia conseguido, naquela editora, uma série de vantagens para os escritores. Ela argumentou que, caso cedesse os direitos defitivamente por valor irrisório não haveria problemas, pois o importante era ajudar as pessoas. Respondi que o grande "ajudado" seria o editor, pois cada título venderia milhares de exemplares sem que o autor recebesse por isso. Ela me disse que tinha facilidade de escrever, que, se escrevesse esse livro, poderia fazer outros. Respondi que não se tratava disso (na época eu já havia escrito mais de 10 livros, publicado alguns e trabalhava em outros tantos inéditos), mas de direitos conquistados depois de muita negociação etc. Parei de argumentar e passei a ter cuidado redobrado para novas parcerias e indicações.
Como não existe guerra santa (nem grito santo, nem agressão santa etc.), agradeço ao Universo por me ensinar sempre sobre diálogo, respeito e convivência com a diversidade. O Universo ensina: uma hora aprendo!
Deixa a gira girar!
Dermes

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