sábado, 19 de novembro de 2011

20 de novembro: Aspectos históricos, políticos e religiosos da negritude brasileira





A data foi estabelecida pelo projeto lei número 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003. Foi escolhida a data de 20 de novembro, pois foi neste dia, no ano de 1695, que morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares
20 de novembro - Dia da Consciência Negra
É chamado escravidão o regime pelo qual um ser humano obtém direito de propriedade sobre outra pessoa. Assim sendo, mesmo nos dias de hoje (quando ainda registra-se casos de trabalho escravo no Brasil e em outros países), o dono pode usufruir da autoridade de comprar, vender, ou ainda trocar outro ser humano por uma dívida.
A prática, na maioria das sociedades e desde tempos remotos, considerava os escravizados como uma mercadoria. Eram os mais valiosos aqueles que se destinavam a trabalhar nas minas de ouro. A avaliação era feita de acordo com idade, sexo, condições físicas, local de procedência e finalidade.
Enquanto que em certas sociedades, como a de Sparta, o escravo era propriedade do Estado e não podia ser comercializado, na Idade Moderna a escravização tinha seu funcionamento em cima do preconceito racial, inclusive entre os próprios negros.
No famoso entreposto comercial do mercado de escravos de Zanzibar, próximo à costa da Tanzânia, a cada ano eram vendidos cerca de 50 mil escravos. Era uma cidade de pedra, de comércio escravista entre África e Ásia, onde homens, mulheres e crianças ficavam à espera das embarcações, gente espremida em lugares completamente fechados, sem comida, nem água.
Ganga Zumba: Mentor de Palmares
Importante ressaltar que foi um negro forte, vindo da Holanda ao Brasil, de nome Ganga Zumba, quem unificou as tribos em 1670, constituindo o Quilombo de Palmares, cuja área tinha cerca de 6 mil km2. A região era bem cultivada, constituída pelos mocambos, verdadeiras Cidades-Estados.
Entre os principais mocambos ou aldeias palmarinas estavam duas mais populosas: Macaco (8 mil moradores) e Amaro (5 mil), e também Subupira, Aqualtene, Acotirene, Dambrabanga, Curivam Andalaquituche, Gongoro, Guiloange, entre outras também populosas.
Gangazumba criou uma sociedade quase perfeita com um Conselho de Ministros (chefes de aldeias), Exército, funcionários. As reuniões aconteciam periodicamente onde todos eram ouvidos e faziam suas reivindicações e sugestões. Esse modelo perfeito de administração provocava a ira das elites.
Todavia, Gangazumba foi preterido pela história como o principal líder negro de Palmares porque desconfiou das propostas do Governo da Colônia para com a sua comunidade e não aceitou a negociação que propunha uma suspeita troca de terras. Assim, uma primeira conspiração foi armada contra Gangazumba (que foi envenenado) para que Zumbi assumisse a liderança do reduto negro. O resto, é o que todos sabem. A política já estava lá, assim como cá.
Um panteão desconhecido
Na grade escolar de História Geral, a rede de ensino inclui abordagens sobre deuses do panteão egípcio ou greco-romanos: Osíris, Hórus, Nefertiti Zeus, Apolo, Atenas, Afrodite e outras divindades. Com o passar do tempo, e mais brasileiros do que antes, surgem questionamentos sobre a não difusão oo panteão Afro-Brasileiro no ensino nacional. Afinal, são divindades que estão quase que no dia-a-dia de comunidades, principalmente para os simpatizantes, iniciados, néofitos ou apenas admiradores dos cultos de Umbanda, Candomblé e outros. Tendas, terreiros, ambientes de incenso e atabaques estão espalhados pelos mais diversos pontos do país, felizmente, livre na sua liberdade de expressão, mas não livre ainda de preconceitos.
Quando nos atemos para o sincretismo, a realidade de uma orgem única entre os povos salta aos olhos: Se Rá éra o Deus Sol para os antigos egípcios, para os gregos, Zeus, e para os romanos, Júpiter, no sincretismo Afro ele é Obatalá, a personificação do Pai Celeste que a Umbanda cultua, onde tem também um filho encarnado, Oxalá, a exemplo do Cristo.
Enquanto Set é um deus ambíguo e perigoso, podendo realizar tantos as boas quanto as más ações, o mesmo acontece com Exús, que pode ser usado em sua dualidade, ou seja na bandeira branca do bem (a direita) quanto para causar infortúnios e espalhar o mau (na esquerda).
Orixás humanos
Da mesma forma que há grandes investimentos na história para que se desvende mais sobre personagens da antiguidade, o brasileiro tem mais contato com a história de reis do tipo Nero, Calígula ou Marco Aurélio, do que o conhecimento sobre um rei nagô ou da nação bantu. E quantos brasileiros por esse imenso território nunca desejaram incursões sobre essas tradições trazidas nos tumbeiros de faces negras e desalentadas, ao sobressalto do estalo de chicotes?
O país é cada vez mais, constituído de um povo moreno, uma realidade inconteste. Se um dia a sociedade riu quando o Rio de Janeiro instituiu o 20 de novembro como feriado, hoje, aos poucos, percebe-se que o Brasil não pode mais ser concebido sem que se admita que uma verdadeira África ocidental por aqui se firmou, com danças menos tribais e mais sociais como o samba que nasceu do candombi (dança tribal).
Lutas como a capoeira, menos raciais como já foi e mais social e engajada na inclusão social já são ofuscadas pelas ideologias políticas entre os próprios negros. Se os caminhos políticos convergirem para o fortalecimento, principalmente da cultura de sua raça, independente de suas raízes extra-continentais, muito mais o negro brasileiro poderá amealhar para a preservação de seus valores como cidadãos.
Não faltarão outros tantos João Fernandes de Oliveira se apaixonando por tantas belas Xicas da Silva. Oxalá o futuro revele uma Pátria Mãe realmente gentil que, longe de aprisionar os sonhos e a voz negra brasileira, liberte os diferentes povos de seus ultrapassados paradigmas e divisões de castas, facções que existem mesmo entre irmãos de cor.
"Ozaziê, Ozaziá...Ozaziê maiongolê, marangolá!
Xangô é Rei, Pai e Justiça! Canta Orumilá, do alto da pedreira!
Axé Brasil!

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