Com muita tristeza acompanhei no ano de 2010 a tentativa de parte da sociedade civil e de legisladores municipais de proibir o corte nos terreiros de Candomblé da cidade. Por trás da "defesa dos direitos dos animais", apenas preconceito, rancor, incompreensão, falta de argumentos lógicos. Articulistas de jornais exaltados mostravam grande desconhecimento dos fundamentos do Candomblé, dos Orixás, de Entidades, por vezes empregando termos, além de raivosos, altamente preconceituosos.
Conforme afirmo em meu livro "xirê: orikais – canto de amor aos orixás (Piracicaba: Limão Doce, 2010), "nos anos 90 li uma matéria num jornal de grande circulação nacional que tratava de tema polêmico, por vezes tabu: a não utilização de animais em rituais de Candomblé. Isso à época me chamou muito a atenção, mas o tema foi deixado de lado. Não me recordo com precisão das referências da matéria, contudo tenho encontrado outras, esparsas, sobre Agenor Miranda e Mestre Didi apresentando ideias semelhantes." Anos depois, encontrei Iya Senzaruban e me iniciei no Candomblé Vegetariano, organizado por ela, paulatinamente, há quase 20 de seus mais de 45 anos de Candomblé.
Por essa razão, acredito ter imparcialidade suficiente para aqui deixar meu depoimento a favor dos irmãos que veem suas práticas erroneamente condenadas, uma vez que aqueles que os desrespeitam não compreendem a função do corte no culto e na alimentação da própria comunidade dos terreiros e seu entorno. Se existe abuso e crueldade (leia-se abaixo a respeito do cuidado com que os animais são criados nos terreiros), que haja fiscalização legítima e democrática para coibir tais práticas. Muitos dos rituais citados pelos detratores do Candomblé, em Piracicaba, jamais aconteceram em qualquer Ilê deste país. Infelizmente, no libelo contra os candomblecistas da cidade, palavras de Iya Senzaruban foram utilizadas descontextualizadas, transcritas de entrevistas.
O Candomblé Vegetariano não faz proselitismo. Conforme repito sempre, trata-se de "uma prática que respeita os fundamentos de outras tradições e amorosamente também exige respeito." Infelizmente somos discriminados por nossa opção de culto mais pelos próprios irmãos de Candomblé do que por aqueles que comumente criticam o Candomblé, mas jamais faríamos isso. Nossa forma de culto difere, mas nossa identidade é a mesma. O vegetarianismo no culto, assim como na alimentação, é uma opção pessoal/coletiva que não pode ser violentamente imposta a ninguém.
Às vésperas do Natal, convido os irmãos a dialogarem com aqueles que cultuam Orixás, sejam do Candomblé, da Umbanda, de outras religiões, simpatizantes dos cultos e outros. Até mesmo para criticar é preciso conhecer. Ou se está fadado a dizer besteiras. Um célebre provérbio dos terreiros afirma "Enu eja pa eja". Em tradução livre, "O peixe morre pela boca".
O texto abaixo foi adaptado de meu livro "xirê: orikais: canto de amor aos orixás". Com o intuito de promover o amplo diálogo, autorizo a transcrição do artigo todo, incluindo a introdução acima, desde que seja citado o nome do autor e a fonte (www.mundoaruanda.com). Quem desejar adquirir o livro, a fim de conhecer os orikais (orikis em forma de haicais), minhas pesquisas, bem como a bibliografia sumariamente citada abaixo, escreva para prof.dermes@yahoo.com.br .
Saúdo meus Orixás, saúdo minha ancestralidade!
Deixa a gira girar, deixa tocar o xirê!
Candomblé Vegetariano é Candomblé. Não é dissidência, mas sim uma maneira de conectar-se com as energias dos Orixás. Não há casas em que se corta menos, situações em que não se corta? Pois bem, paulatinamente Iya Senzaruban adaptou os fundamentos à prática vegetariana, não criou uma nova religião.
Candomblé Vegetariano é Candomblé. E toda festa de santo é celebração. Todo iniciado é "do santo". Não há casas em que fundamentos diferem? Não há nações com práticas diferenciadas? Ninguém aprisiona as energias, ninguém aprisiona os Orixás (1).
Na vivência espiritual nem sempre se respeita a diversidade, o diálogo. Mestre Jesus, grande avatar deste planeta, quando informado pelos discípulos de que havia curadores usando seu nome sem pertencerem a seu grupo, respondeu que aquele que não estava contra Ele, estava com Ele (Lc 9, 49-50). No caso do Reiki, por exemplo, há diversas tradições e práticas divergentes, mas é a mesma Energia. Há reikianos que sugerem, baseados na observação e em sua experiência, não aplicar Reiki em situações de anestesia, outros que comprovaram não ser isso necessário e aqueles, como eu, que consideram cada situação, cada organismo (humano ou animal). Existem mestres que fazem iniciações a distância, com crianças, animais e plantas, baseados em fundamentos do próprio Reiki e no trabalho de diversos mestres internacionalmente respeitados. Outros não trabalham a Energia dessa maneira. Particularmente, procuro entender a fundamentação, observar se não há excessos, inconvenientes, respeitar a prática alheia e fazer o que meu coração, as necessidades e urgências solicitam, com responsabilidade, e sem culpa. O que não pode acontecer, ainda tendo o Reiki como exemplo, é achar que o "meu" Reiki é melhor do que o Reiki "do outro".
Na Umbanda, em cuja fundamentação não existe o corte, embora diversas casas dele se utilizem, os elementos animais, quando utilizados, crus ou preparados na cozinha, provêm diretamente dos açougues. No primeiro caso, usam-se, por exemplo, língua de vaca, sebo de carneiro (por vezes confundido com e/ou substituído por manteiga de carité), miúdos etc. No Segundo, nas palavras de Rubens Saraceni,
"(...) Mas só se dá o que se come em casa e no dia a dia.
Portanto, não há nada de errado porque a razão de ter de colocar um prato com alguma comida "caseira" se justifica na cura de doenças intratáveis pela medicina tradicional, causadas por eguns e por algumas forças negativas da natureza.
(...)
Observem que mesmo os Exus da Umbanda só pedem em suas oferendas partes de aves e de animais adquiridos do comércio regular, porque já foram resfriados e tiveram decantadas suas energias vitais (vivas), só lhes restando proteínas, lipídios etc., que são matéria." (SARACENI, p. 64).
Para legitimar a não utilização do corte na Umbanda, Míriam de Oxalá se vale dos estudos e de citação de Fernandez Portugal. Para a autora,
"(...) vale a pena citar de Fernandez Portugal, renomado escritor africanista, em seu livro Rezas-Folhas-Chás e Rituais dos Orixás publicado pela Ediouro, o item "Ossaiyn, O Senhor das Folhas": "Segundo a tradição yourubá, sem ejé e sem folhas não há culto ao Orixá, mas pode-se iniciar um Orixá apenas utilizando-se folhas, pois existem folhas que substituem o Ejé." O grifo é nosso e tais conceitos são, para nós umbandistas, bem conhecidos." (OXALÁ, p. 77)
Observe-se, noutro contexto, como ecoam tanto as palavras de Portugal quanto as de Míriam de Oxalá. Para Orlando J. Santos,
"Para se fazer um EBÓ 'tudo que a boca come' é preciso ter esgotado todas as possibilidades de resolver o caso a partir das ervas: akasá, obi, orobô etc. Sabemos que: obi, orobô e certas folhas, quando oferecidos aos Orixás dentro do ritual, valem por um frango, cabrito, carneiro, Portanto, em muitos casos, substitui o EJÉ, 'sangue animal'." (SANTOS, pp. 46-47)
No Candomblé, por sua vez e ao contrário do que sustenta o senso comum, o qual associa a religião à "baixa magia", prefere-se a criação própria, mais integrada e ecológica. A respeito do aproveitamento do elemento animal em rituais e no cotidiano do Ilê, Iya Omindarewa afirma
"Uma parte é oferecida ao Orixá, fica aos seus pés até o dia seguinte e depois é dividido entre as pessoas da comunidade. Essa carne é cozida e preparada num ritual muito absoluto, e é totalmente aproveitada. O restante é para alimentar o povo da festa, gente da casa e os vizinhos. Tem um sentido, nada é feito à toa. É oferecida ao animal uma folha; se ele não comer não será sacrificado, pois não foi aceito pelo Orixá." (Revista Espiritual de Umbanda – Especial 03, p. 60).
Mãe Stella de Oxossi, quando perguntada se o século XXI corresponderia ao fim do uso de animais em rituais do Candomblé, responde:
"Mas neste século XXI o que mais tem é churrascaria! Mata-se o boi, a galinha e o carneiro para comermos. Só porque usamos animais em nossos rituais, fiam falando que deve acabar. O animal mais bem aproveitado é aquele que é morto nos rituais de Candomblé, porque se aproveita tudo: a carne, que alimenta muita gente, o couro..." (Revista Espiritual de Umbanda – Especial 03, p. 60).
Em síntese, nos rituais, o corte no Candomblé está associado à ceia comunal: come o Orixá e comem fiéis e convidados do mesmo prato. A base desse fundamento é a utilização do sangue (ejé, menga, axorô) para a movimentação do Axé, o que, aliás, não ocorre apenas em situações de ceia comunal, mas também em ebós, quando apenas os Orixás ou entidades comem.
Nas palavras de Iya Omindarewa,
"Está na cabeça da gente que não se pode fazer o sacrifício, pegar energia de uma coisa viva e passar para outra. Admite-se comer um bom bife, uma galinha ou porco para alimentar o corpo. Mas não se admite captar a energia dos animais, das folhas, da Natureza toda para fortalecer sua cabeça. Isso não faz sentido; vamos andar descalços porque não se pode usar o couro? Não vamos comer folhas, milho, carne porque são da Natureza? E como o ser humano vai viver? A vida não é uma luta? Pega-se uma coisa pela outra e depois não retorna tudo para a terra? Isso tudo é uma grande bobagem. O sacrifício significa dar ao Orixá uma certa energia que ele devolve em troca. Tudo depende das ocasiões; não é durante toda a vida que vamos matar bichos, mas em grandes momentos, como nas Feituras, quando é necessário." (Revista Espiritual de Umbanda – Especial 03, p. 60).
Dialética e dialogicamente, quanto mais vivencio o Candomblé Vegetariano, mais aprendo a respeitar o fundamento do corte. É natural que o Candomblé Vegetariano atraia vegetarianos, pessoas e entidades que trabalham com resgate e direitos de animais, contudo isso não nos confere o direito de discriminar irmãos-de-santo, terreiros etc. Prática plural e geralmente inclusiva, o Candomblé, em sua vertente vegetariana, não atrai apenas os que não comem carne ou que não trabalhem o corte como fundamento: as portas estão sempre abertas para todos. Conforme registrei em diversos escritos (e faço disso um lembrete para mim, como integrante do Ilê e como Ogã), e isso não se aplica apenas ao Candomblé,
"Candomblé Vegetariano: uma prática que respeita os fundamentos de outras tradições e amorosamente também exige respeito."
Historicamente, o povo-de-santo já foi por demais achincalhado, desrespeitado e perseguido. A respeito do corte, observe-se o exemplo abaixo, fragmento de texto utilizado por mim diversas vezes para tratar de contra-argumentação, preconceito, pluralidade e outros conceitos em aulas de Redação.
"Como racismo no Brasil é sempre coisa do vizinho (argentino ou não), os defensores dos animais que lutam contra o rito das religiões africanas vão jurar de pés juntos que não são racistas, que jamais quiseram dizer que o deus dos negros não é tão bom quanto o deus dos brancos, que existem até negros entre eles e que queriam apenas evitar atrocidades contra os animais. Pode ser verdade, mas não basta. Se isso for mesmo, se o que os move é tão-somente a defesa dos animais, onde estão então os protestos diante dos abatedouros de bois, porcos e aves? Onde estão os protestos contra a condição do Brasil de maior exportador mundial de carne bovina e de frango? Dias atrás, o governo da Rússia anunciou que vai voltar a permitir a importação de carnes bovina, suína e de frango de regiões do Brasil onde havia suspeita de alguma doença. Foi uma excelente notícia para a economia brasileira – e não se ouviu o protesto dos defensores dos bois, porcos e galinhas." (André Petry, "Isso é que é racismo". Veja, 27 de abril de 2005, p. 93)
Não seremos nós, irmãos, a cometer violência e desrespeito, dentro ou fora da comunidade do Candomblé. Além de razões éticas e humanitárias, existe legislação específica que privilegia o respeito e a convivência conscientes, muito mais do que a tolerância (2). Tive a oportunidade de vivenciar em 21 de janeiro de 2008, no Teatro Castro Alves, em Salvador, uma noite festiva para o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. A data foi oficializada pela Lei número 11.635, em 27 de dezembro de 2007, e sancionada pelo Presidente da República. Em outras palavras, Religião e Espiritualidade também são questões de cidadania e leis.
Embora não seja objetivo deste texto tratar dos fundamentos das religiões ditas de matriz africana e/ou especificamente do Candomblé ou do Candomblé Vegetariano, convém lembrar que sacrifícios e oferendas sempre fizeram parte da relação entre o humano e o divino, seja literal (Judaísmo Antigo, Candomblé etc.) ou simbólico (Missa e outras formas de culto). Nesse contexto, a presença do sangue é fundamental. Além dos sacrifícios propriamente ditos, há mundo afora diversos rituais em que se derrama o próprio sangue, como a autoflagelação, a Dança do Sol entre povos indígenas dos Estados Unidos (3) e o hábito de utilizar gotas do próprio sangue para impregnar objetos rituais como runas fabricadas artesanalmente para uso próprio. Se os dois primeiros exemplos podem ser considerados por muitos literalmente sangrentos, ambos devem ser analisados no contexto social, psicológico e religioso em que se manifestam, a fim de a autoflagelação não ser reduzida a uma prática masoquista e de culpabilização (seja nas Filipinas ou no cotidiano da Opus Dei), ao mesmo tempo que, quando muito, se aceita a Dança do Sol como forma de interação com o cosmo e de preservação da cultura nativa (4). Pretendo aqui ampliar o diálogo e jamais pontificar o "certo" ou o "errado" na vivência espiritual de cada um ou de determinada coletividade.
O Candomblé se utiliza de três tipos de sangue (5):
Reino animal
Sangue vermelho
sangue propriamente dito
Sangue branco
sêmen, saliva, hálito plasma (em especial do ibi, tipo de caracol) etc.
Sangue preto
cinzas de animais
Reino vegetal
Sangue vermelho
epô (óleo de dendê), determinados vegetais, legumes e grãos, osun (pó vermelho), mel (sangue das flores) etc.
Sangue branco
seiva, sumo, yierosun (pó claro), determinados vegetais, legumes e grãos etc.
Sangue preto
sumo escuro de determinadas plantas, waji (pó azul), carvão vegetal, determinados vegetais, legumes, grãos, frutos e raízes etc.
Reino mineral
Sangue vermelho
cobre, bronze, otás (pedras) etc.
Sangue branco
sais, giz, prata, chumbo, otás etc.
Sangue preto
carvão, ferro, otás, areia, barro, terra etc.
As adaptações, os fundamentos do Candomblé Vegetariano são apresentados em livros da própria Iya Senzaruban. Não cabe a mim encabeçar esse diálogo, mas sim à própria ialorixá. Este texto, repito, apresenta parte da celebração da trajetória deste Ogã, sua visão particular sobre o Candomblé Vegetariano, os Orixás etc. Entretanto, não posso deixar de registrar a feliz analogia de Iya Senzaruban, aqui adaptada e simplificada, sobre o uso ou não do sangue de animais em rituais. Conforme suas palavras, a utilização do sangue em rituais seria como um SEDEX 10; sem o sangue teríamos uma carta registrada: a correspondência demoraria alguns dias, mas chegaria com a mesma segurança.
A diversidade de culto e liturgia no Candomblé não se restringe apenas às particularidades e aos fundamentos de cada nação ou de cada casa, uma vez que o culto aos Orixás também representa uma experiência pessoal, não restrita ao terreiro. O Candomblé Vegetariano vem somar-se a essa diversidade. Na Umbanda, onde talvez a diversidade seja ainda maior (e sempre amparada em fundamentos), encontramos, por exemplo, terreiros em que, por diversas razões, não se fecham as cortinas do congá quando das giras de Exus e Pomba-giras, nem são servidas bebidas alcoólicas às entidades incorporadas nos médiuns, as quais são postas em recipientes, onde ficam à disposição das entidades (6). A esse respeito, e por também evocar o diálogo sobre a utilização do corte/sangue em rituais, reproduzo algumas informações bastante interessantes sobre a água de coco.
No 1o. Locutório Interestadual promovido pela Faculdade de Teologia Umbandista (Curitiba, 16 de julho de 2005), Pai Fernando cita e-mail de Maria de Omolu e Solano de Oxalá (Casa Branca de Oxalá, Lagoa Santa, MG) a respeito da substituição de bebidas alcoólicas por água de coco no caso de médiuns que não consomem álcool. Segundo trecho do e-mail:
"(...)
O que eles fazem: deixam no ponto central um cuité com o marafo e bebem água de coco em outro cuité. O coco tem uma propriedade enorme na sua essência: primeiro porque é considerado o "sangue vegetal" e segundo porque tem o plasma da vida. Na guerra do Vietnã, quando faltou sangue para os soldados fazerem transfusão, foi a água de coco que salvou muita gente. Então, os Exus ou Pombas-giras que trabalham com médiuns que não podem beber, trabalham com a água de coco. E ficam satisfeitos, porque a função de uma Entidade é querer que seu aparelho evolua, ou então, querer o seu bem-estar físico." (Revista Espiritual de Umbanda – número 11, p. 9).
A abstinência dos médiuns é bastante comum em muitos terreiros, acrescida ou não do uso da água de coco em substituição ao álcool. Ainda a respeito de outros aspectos terapêuticos do mesmo elemento (água de coco), em especial, no combate a demandas, Pai Fernando evoca o pai-de-santo Edmundo Santo, já desencarnado, o qual, segundo o autor,
"(...) dizia-me que a Umbanda combate todos os trabalhos negativos, exceto quando neles foi usado o sangue como energia, pois, segundo ele, para desmanchar um campo de forças, um semelhante tem que ser criado."
Assim como as experiências relatadas por Pai Fernando oferecem alternativas ao uso do corte e do sangue animal, e outros tantos terreiros de Umbanda buscam alternativas para, dentre outros, o ritual de passar animais pelo corpo dos consulentes para soltá-los, a fim de descarregarem energias negativas na terra, o Candomblé Vegetariano apresenta-se como uma vertente das religiões ditas de matriz africana. Se, de modo geral, o Candomblé não faz proselitismo, uma vez que se fundamenta na ancestralidade, e abre as portas para todos (7), o Candomblé Vegetariano não foge à regra: "uma prática que respeita os fundamentos de outras tradições e amorosamente também exige respeito."
NOTAS
(1) Na tradição do Reiki, há um símbolo-ideograma com uma belíssima narrativa que destaco como reflexão para toda atividade espiritual, religiosa, holística: "O céu/O céu desce à terra/O homem é criado/O céu também está dento do homem/O homem estabelece o céu na terra/O homem manifesta a força do céu na terra/O homem cria a casa de Deus/O homem passa a estabelecer que o céu está apenas no interior da casa de Deus/O homem passa a acreditar que o céu existe em razão da casa de Deus/O homem afirma que o céu se manifesta apenas na casa de Deus/ O homem prega que somente os 'homens de Deus' vão para o céu/O céu desce fora da casa de Deus/O homem comum descobre que o céu está somente dentro dele/O homem comum traz o céu à terra por meio de seus atos de amor/Os atos de amor do homem comum salvam a humanidade da destruição e oferecem esperança a todos os que ainda nascerão." (BARBOSA JÚNIOR, p. 62)
(2) Por vezes, a tolerância mascara o preconceito: "Ele é do Candomblé, eu aceito, eu respeito, fazer o quê, né?". "Ela é evangélica, mas é gente boa...". "Tão bonzinho, mas é espírita...".
(3) "Os membros do Clã dos Guerreiros que escolhem o caminho do sacrifício pelo bem do Povo devem preparar-se durante três dias antes da dança, através de jejuns e de preces, seguindo as instruções dados pelos Anciões. No terceiro dia os dançarinos são trespassados através do tecido conjuntivo dos músculos peitorais, primeiro com um furador e depois com um bastão afiado de cerejeira. Depois prendem-se tiras de couro às pequenas estacas que lhes atravessam o peito, atando-os à Árvore da Dança do Sol ou à Árvore da Vida e criando um efeito especial de guarda-chuva ou de carrossel." (SAMS, p. 93)
(4) "Muitos dos primeiros agentes do governo dos Estados Unidos viam a Dança do Sol como uma tortura auto-infligida porque não conheciam o propósito da cerimônia. Consequentemente ela foi proibida em 1941 pelo Departamento do Interior. Só nos últimos anos as Danças do Sol começaram novamente a devolver o espírito ao nosso povo. O objetivo da Dança do Sol é permitir que jovens Guerreiros partilhem o sangue de seus corpos com a Mãe Terra. Acredita-se que as mulheres fazem isso durante sua Lua, ou ciclo menstrual (...). As mulheres doam sua dor durante o parto, e os homens durante a Dança do Sol, para que o seu povo possa continuar a existir. As mulheres nutrem as sementes das futuras gerações enquanto os homens comprometem suas vidas com a proteção desse futuro através da cerimônia da Dança do Sol." (SAMS, p. 93)
(5) Valho-me aqui da síntese feita por Virgínia Rodrigues em "A força do Axé" ( Revista Espiritual de Umbanda – Especial 03, p. 69).
(6) No Ilê Iya Tunde bebidas alcoólicas geralmente não são ingeridas pelos médiuns incorporados, sendo oferecidas aos pés das entidades e dos Orixás, de acordo com a organização geral da casa e dos rituais.
(7) A respeito da inclusão dos segmentos sociais mais diversos e diversificados no Candomblé, consultem-se os ensaios das coletâneas organizadas por Carlos Eugênio M. de Moura citados na bibliografia.
Dermes
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