quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Uma bela Inspiração



Texto retirado do blog do nossa amiga, ouvinte e colaboradora Mãe Mônica Caraccio
http://www.minhaumbanda.com.br

Às vésperas do dia da Consciência Negra vale uma reflexão sobre a importância da cultura e do povo africano na formação da nossa cultura. Sei que falar sobre a importância dessa reflexão somente nessa data é algo muito vago e nem de longe é suficiente, no entanto, vale como um Grito, como um Alerta ou como um Despertar para o nosso pensar que, muitas vezes, ainda é tão preconceituoso e limitado.
É fato que os negros africanos colaboraram e colaboram expressivamente na história de todos os povos, principalmente nos aspectos políticos, sociais, gastronômicos e religiosos de nosso país. Estão ai o Candomblé e a Umbanda para afirmarem essa importância.
É fato que, infelizmente, há uma tendência à valorização dos personagens históricos de cor branca, como que se a história do Brasil tivesse sido construída somente pelos europeus e seus descendentes, o que é de se lamentar visto a forte expressão dos negros na nossa história.
É fato ainda que, mais do que ficar feliz pelo feriado, temos que, principalmente nós umbandistas, fazer valer essa data e fazer viver a vida e a história de Zumbi dos Palmares, um grande líder negro que lutou por um ideal e pela liberdade de seu povo.
Sem dúvida nenhuma, é um grande exemplo, um grande orgulho e uma belíssima inspiração para todos nós, independente da cor de nossa pele.

Sem dúvida nenhuma é um grande aprendizado, afinal, para Zumbi, o mais importante não era viver livre mas libertar todos os negros ainda escravos.
E para não perder a oportunidade estou transcrevendo esse maravilhoso texto extraído do livro 'Zumbi dos Palmares' de Eduardo Fonseca. Leiam com atenção e com a mente aberta, pois a riqueza de informações é garantida.
E, se possível, ouçam, vejam, se deleitem e se emocionem com a belíssima música de Clara Nunes chamada "Canto das Três Raças" – música do LP "Clara" de 1974, uma emocionante homenagem a todos os povos que lutam pela paz e pela igualdade entre os homens.
Relembrando Zumbi
Em 1545, o donatário da Capitania da Paraíba do sul, Pedro de Góis escrevia ao seu sócio em Lisboa, Martim Ferreira, solicitando a remessa urgente para a referida capitania de "ao menos setenta Negros de Guiné". Ele contava dali a um ano e meio despachar para Portugal, duas mil arrobas de açúcar, desde que seus sócios providenciassem a vinda do maior número possível de colonos e, principalmente, de escravos africanos. Em 1559, com Dona Catarina como Regente de Portugal, assinada a permissão para que cada um, dono de engenho no Brasil, pudesse comprar até 120 escravos africanos. Era o passo inicial para um famigerado sistema de dominação e escambo que, durante três séculos dominaria as três Américas e, em específico, o Brasil.
Cinqüenta anos mais tarde, este tráfico crescera a proporções estarrecedoras envolvendo desde a Igreja Católica e Protestante até o mais simples fazendeiro, transformando a proporcionalidade entre brancos e negros no Brasil a dois negros para cada branco. Como é sabido, o tratamento que os traficantes e os senhores de engenho davam aos escravos era extremamente desumano, chegando mesmo às raias do sadismo. Os escravos que na África, em suas tribos, eram rivais de outras tribos, no Brasil se uniram contra o colonizador português e, unindo-se, trocaram informações e conhecimentos os quais foram úteis aos processos de fugas e instalação de refúgios. Estes foram chamados de Quilombos.
Em apenas cinquenta anos os quilombos foram aparecendo por toda a colônia levantando uma bandeira de resistência contra o colonizador português. Tal fato, não aconteceu nas colônias americanas do norte devido a massificação protestante que não permitia a identificação étnica dos escravos, limitando-os a um primeiro nome e o sobrenome do proprietário dele. No Brasil, obviamente foi estabelecido um sistema de combate aos quilombos mediante a contratação de bandeirantes, mercenários e capitães do mato. Em grande parte, vencedores, os contratados dos fazendeiros levavam a vantagem de estarem bem municiados e respaldados por recursos financeiros, enquanto os habitantes dos quilombos contavam apenas com os recursos que os locais lhes fornecia e suas táticas africanas de origem.
No começo do século XVII foi construído em Alagoas o primeiro Quilombo dos Palmares, o mais famoso de todos do Brasil. Palmares era uma verdadeira cidadela de resistência a todos os ataques vindos por parte dos fazendeiros. E o foi por quase um século. O complexo de Palmares começou com o quilombo do Amaro, depois com o Sucupira, seguido do Macaco e finalmente o quilombo do Gigante. Exceto o Quilombo do Gigante, todos os demais foram destruídos pelos próprios ex-escravos. Estima-se que a população de Palmares tenha chegado a cerca de 25 a 30.000 pessoas, no período compreendido entre 1620 e 1695.
A organização Palmarina em nada devia aos costumes e leis européias, vez que já a tinham na Velha África. A descrição do navegador holandês Olfert Dapper em 1602 relata a cidade de Benim na áfrica Ocidental (Nigéria) como "sendo uma cidade composta por ruas largas e perpendiculares com casas construídas lado a lado, com um ou dois pisos, sendo que tais ruas de tão extensas não se vê o fim das mesmas. Toda a cidade é ladeada por grandes paliçadas e profundos fossos". Imagina-se portanto, que o famoso Quilombo do Gigante em Palmares construído pessoalmente por Zumbi tenha sido 85 anos depois deste relato algo igual ou superior a cidade de Benin. Caso contrário, não teriam sido necessários 11.000 soldados e 5 anos de cerco com artilharia pesada e canhões para destruí-lo.
Os habitantes de Palmares, liderados por Zumbi e Gangazuma, e estes assessorados por hábeis generais como Bambuza, Cynianta, Dumdum, Mukumbe, Papua, Shegun e outros valorosos membros das elites tribais africanas trazidas para o Brasil, tinham uma estrutura de defesa e uma capacidade de resistência somente comparável à cidade de Tróia na história da humanidade.
Dentro do campo da subsistência diária, líderes como o sumo sacerdote Bambushê Adinimodó e o sacerdote Kaundê obtiveram ensinamentos sobre agricultura extensiva e rotativa sendo esta última completamente ignorada por parte dos fazendeiros brancos. A resistência de Palmares ante aos inúmeros ataques que sofreu por tropas enviadas pelo Governador geral do Brasil em Salvador e pelo governador geral da Capitania de Pernambuco em Recife só foi possível mediante a doação de armamentos que lhes foi feita por Maurício de Nassau durante a permanência dos holandeses no Brasil, de 1637 a 1654.
A terra pertencia a todos e o seu produto era dividido por todos. Cada habitante tinha sua residência e podia plantar dentro da área de sua residência o que bem entendesse. Os trabalhos de construção, preparo de lavouras e estoque eram divididos por todos. As crianças eram ensinadas e preparadas desde a infância para todos os eventos desde os costumes tribais até a guerra. As mulheres eram encarregadas da tecelagem e guarda do estoque de alimentos nos silos destinados a tal.
Tal foi a importância da estrutura do Quilombo de Palmares que seus produtos em lavoura e artesanato foram durante anos comercializados com os habitantes das cidades de Recife, Una, Porto Calvo e Sirinhaém obtendo a preferência dos habitantes ante aos produtos oferecidos pelos fazendeiros locais. Uma das razões desta preferência devia-se a melhor qualidade e tamanho dos produtos de Palmares conseguidos com suor, mas sem lágrimas.
Enquanto existiu, o Quilombo dos Palmares foi a maior dor de cabeça que Portugal e Algarves tiveram no Brasil durante o século XVII, levando o Conselho Ultramarino de Lisboa à loucura total e desespero, investindo altas somas para sua destruição. 1.500 fidalgos portugueses viviam estritamente do tráfico de escravos para o Brasil, o qual, atingiu a soma de 8 milhões de almas.
Zumbi dos Palmares deixou uma grande lição na sua luta contra o colonizador branco: A liberdade é um bem precioso demais para ser desperdiçado. Muitos serão libertos e novamente se jogarão como escravos. Para estes a liberdade jamais existiu e jamais poderá existir.
Palmares foi finalmente destruído no dia 20 de novembro de 1695, depois de pelo menos 5 anos de ataques sucessivos liderados por Domingos Jorge Velho, André Furtado de Mendonça e Bernardo Vieira de Melo em expedições financiadas pela Coroa Portuguesa e fazendeiros locais. Por este feito, ambos receberam concessões de sesmarias e prêmios, depois de levarem a cabeça de Zumbi a Recife.
Mas tanto Jorge Velho, como André Furtado de Mendonça e Bernardo Viera de Melo tiveram ao invés da glória, um fim trágico. O primeiro, após radicar-se no Ceará, morreu no total esquecimento. Bernardo Vieira de Melo foi preso em Porto Calvo a mando do Governador Caldas e remetido a Lisboa, onde morreu na prisão. André Furtado de Mendonça, preso por envolvimento com uma insurreição, foi assassinado por desconhecidos.
Extraído do livro "Zumbi dos Palmares" de Eduardo Fonseca
E QUANTO A ZUMBI?
Zumbi está cada vez mais vivo em nossa história, não só como o herói do povo negro, mas como um ícone da luta pela LIBERDADE.
Zumbi dos Palmares nasceu no estado de Alagoas no ano de 1655. Foi um dos principais representantes da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial. Foi líder do Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos das fazendas.
Embora tenha nascido livre, foi capturado quando tinha por volta de sete anos de idade. Entregue a um padre católico, recebeu o batismo e ganhou o nome de Francisco. Aprendeu a língua portuguesa e a religião católica, chegando a ajudar o padre na celebração da missa. Porém, aos 15 anos de idade, voltou para viver no quilombo.
No ano de 1675, o quilombo é atacado por soldados portugueses. Zumbi ajuda na defesa e destaca-se como um grande guerreiro. Após uma batalha sangrenta, os soldados portugueses são obrigados a retirar-se para a cidade de Recife. Três anos após o governador da província de Pernambuco aproxima-se do líder Ganga Zumba para tentar um acordo, e Zumbi coloca-se contra o acordo pois não admitia a liberdade dos quilombolas, enquanto os negros das fazendas continuariam aprisionados.
Em 1680, com 25 anos de idade, Zumbi torna-se líder do quilombo dos Palmares, comandando a resistência contra as tropas do governo. Durante seu "governo" a comunidade cresce e se fortalece, obtendo várias vitórias contra os soldados portugueses. O líder Zumbi mostra grande habilidade no planejamento e organização do quilombo, além de coragem e conhecimentos militares.
O bandeirante Domingos Jorge Velho organiza, no ano de 1694, um grande ataque ao Quilombo dos Palmares. Após uma intensa batalha, Macaco, a sede do quilombo, é totalmente destruída. Ferido, Zumbi consegue fugir, porém é traído por um antigo companheiro e entregue às tropas do bandeirante. Aos 40 anos de idade foi degolado em 20 de novembro de 1695.
Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, lutou pela liberdade de culto, religião e prática da cultura africana no Brasil Colonial.
"Através da violência você pode matar um assassino, mas não pode matar o assassinato. Através da violência você pode matar um mentiroso, mas não pode estabelecer a verdade. Através da violência você pode matar uma pessoa odienta, mas não pode matar o ódio. A escuridão não pode extinguir a escuridão. Só a luz pode.
Eu tenho um sonho... um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele,
mas pelo conteúdo de seu caráter."
Martin Luther King
Leia um pouco mais sobre o pastor Martin Luther King, um importante líder e um incansável lutador pelos direitos civis nos Estados Unidos e no mundo. Um homem que agia através da não-violência e do amor para com o próximo, que lutava pela igualdade dos homens, pelo fim da segregação racial e que acabou sendo assassinado friamente pouco antes de receber o Prêmio Nobel da Paz em 1964, acessando: Eu Tenho um Sonho!
Canto Das Três Raças
Clara Nunes
Composição: Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro
Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil
Um lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou
Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou
Fora a luta dos Inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantou
E de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dor
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador
Esse canto que devia
Ser um canto de alegria
Soa apenas
Como um soluçar de dor

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