segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Exus e Pombagiras - Guardiões Incompreendidos


Em meu primeiro texto resolvi dividir com meus irmãos a angústia que sinto e que todo umbandista esclarecido deve sentir ao ver os nossos queridos exus e pombagiras serem alvos de tanto preconceito e desconhecimento, até mesmo na palavra de umbandistas e candomblecistas. Dentro dos cultos espiritualistas presididos por dirigentes leigos e irresponsáveis, exu é associado à troca, aos trabalhos de queimação, é aquele que ameaça, profere palavrões gigantes, faz pactos, enfim é a presença do mal na casa dos orixás. Nos cultos protestantes exu é o grande demônio, é o responsável por todos os males da sociedade; pela criminalidade, pelos vícios, pelo adultério, pela sexualidade desenfreada e por tudo aquilo que não provêm de Deus.
Inúmeras matérias foram noticiadas nesses últimos anos, a respeito de discriminação em escolas, quando os professores abordaram ou tentaram abordar dentro do tema religiosidade africana, o Senhor Exu. Sim, discriminação nas escolas, setor educação; setor este responsável por formar cidadãos de bem, esclarecidos, prontos para agir conforme a lei; lei esta que prevê liberdade de culto dentro de nosso país e hoje, lei que prevê o estudo da cultura africana nas escolas, como a lei federal 10.639/2003. É revoltante e, em parte, é culpa nossa, todo esse processo discriminatório ainda resistir em pleno século XXI. E a quem cabe a desmistificação das pessoas, criada em torno de exu…? Cabe a nós, praticantes de religiões de matrizes afrodescendentes. Cabe a nós estudarmos, discutirmos, esclarecer nossos irmãos, até os que denigrem nosso culto, colaborando para esse processo. Cabe a nós, nos unirmos e colocarmos em prática nosso direito de falar, de expor; num país laico, que garante por constituição esse direito. Vamos refletir então um pouco sobre os nossos exus e pombagiras, representantes dos exus, nos nossos cultos de umbanda.


Nas lendas africanas que originaram os candomblés, Exu é o primeiro filho de Iemanjá, irmão de Ogun. Este Orixá está presente em todos os locais. Exú é caminho, é energia, é vida, é determinação, é cumpridor da Lei, Exú é esperto, Exú é guardião, Exú é trabalho, é alegria veloz, Exú é viver, é a magia, é o encanto, é o fogo, é o sangue na veia vibrando, Exú é prazer. Entendemos Exu como a energia do movimento, dos caminhos, da virilidade, do sexo, dos sentidos, da força, do viver, é a energia guardiã dos templos, casas, lojas; é a energia mais próxima dos humanos, energia terra-terra, é o senhor dos limites, dos portais, das fronteiras e, por tanto, é o mensageiro entre os homens e os demais orixás. Pelo gosto do que é fino, assim como nós humanos, tal como bebidas, bons fumos; pelos sacrifícios ritualísticos oriundos da mãe África, por estar também no limite entre o bem e o mal; pelos seus símbolos, tal como o tridente ( que é também um símbolo presente em várias culturas, como na mitologia grega ) exu é confundido até hoje com o diabo criado na cultura católica. A partir daí, muitos equivocadamente criaram imagens diabólicas para representar os exus, além de pontos e cantigas. Na doutrina de umbanda e energia de exu se apresenta nos médiuns através dos espíritos falangeiros que trabalham em diversos planos; são os exus e pombagiras da nossa querida umbanda.
Exus e pombagiras são espíritos que já encarnaram na terra.  Na sua maioria, tiveram vida difícil como  mulheres da vida; boêmios; dançarinas de cabaré, etc. Estes espíritos optaram por prosseguir sua evolução espiritual através da prática da caridade,  incorporando nos terreiros de Umbanda. São muito amigos, quando tratados com respeito e carinho, são desconfiados mas gostam de ser presenteados e sempre lembrados. Estes espíritos, assim como os Preto-velhos, crianças e caboclos, são servidores dos Orixás. Apesar das imagens de Exus, fazerem referência ao "Diabo" medieval (herança do Sincretismo religioso), eles não devem ser associados a prática do "Mal", pois como são servidores dos Orixás, todos tem funções específicas e seguem as ordens de seus "patrões".  Dentre várias, duas das principais funções dos Exus são: a abertura dos caminhos e a proteção de terreiros e médiuns contra espíritos perturbadores durante a gira ou obrigações.
Desta forma estes espíritos não trabalham somente durante a "gira de Exus" dando consultas, onde resolvem problemas de emprego, pessoal, demanda e  etc. de seus consulentes.  Mas também durante as outras giras (Caboclos, Preto-velhos, Crianças e Orixás), protegendo o terreiro  e os médiuns, para que a caridade possa ser praticada.
Ele é o guardião dos caminhos, soldado dos Pretos-velhos e Caboclos, emissário entre os homens e os Orixás, lutador contra o mal, sempre de frente, sem medo, sem mandar recado.Verdadeiros cobradores do carma e responsáveis pelos espíritos humanos caídos representam e são o braço armado e a espada divina do Criador nas Trevas, combatendo o mal e responsáveis pela estabilidade astral na escuridão. Senhores do plano negativo atuam dentro de seus mistérios regendo seus domínios e os caminhos por onde percorre a humanidade. Em seus trabalhos Exu corta demandas, desfaz trabalhos e feitiços e magia negra, feitos por espíritos malignos. Ajudam nos descarregos e desobsessões retirando os espíritos obsessores e os trevosos, e os encaminhando para luz ou para que possam cumprir suas penas em outros lugares do astral inferior. Seu dia é a Segunda-feira, seu patrono é Santo Antônio, em cuja data comemorativa tem também sua comemoração. Sua bebida ritual é a cachaça. Sua roupa, quando lhe é permitido usá-la tem as cores preta e vermelha, podendo também ser preta e branca, ou conter outras cores, dependendo da irradiação a qual correspondem. Completa a vestimenta o uso de cartolas (ou chapéus diversos), capas, véus, e até mesmo bengalas e punhais em alguns casos.
Ao contrário do que se pensa, os exus não são os diabos e espíritos malignos ou imundos que algumas religiões pregam, tampouco são espíritos endurecidos ou obsessores que um grande número de espíritas crêem. Os "diabos" ou demônios são seres mitológicos, já "desvendados" pela doutrina espírita, portanto, não existem.Espíritos trevosos ou obsessores são espíritos que se encontram desajustados perante a Lei. Leis espirituais, às quais os exus são grandes agentes executores. Amado por muitos, incompreendido pela maioria, sempre trabalhando para o equilíbrio nos diversos planos e presente em todos eles, sempre estará exu. Que a energia de exu nos encorage e nos dê força e sagacidade para que possamos agir contra o preconceito, a discriminação, às vezes criada por irmãos nossos de fé, para que a umbanda possa cada vez mais ser respeitada como uma religião genuinamente brasileira e que, filosifcamente, atua no sentido pleno da palavra religião, formando pessoas de bem e para o bem. E que todos possam falar sem medo, sem constragimento, que são umbandistas e que trabalham com seus exus.
Laroiê, Mojubá, Exu.

A todos que quiserem relatar histórias, divulgar a agenda de seus terreiros, esclarecer dúvidas ou colaborar com a coluna, escrevam para nós e nas  postagens da coluna, responderei a todos com prazer: mellocarlosjose@gmail.com

Meu fraterno saravá a todos e salve o exu dos meus caminhos, Sr.Tranca Ruas das Almas,
José Carlos Melo, professor e dirigente de culto umbandista, Presidente da Irmandade Umbandista Luz de Aruanda.

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