domingo, 13 de novembro de 2011

Oxum: Uma Paixão

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Oxum tem muitas cores, mas para mim se destaca o amarelo, a cor solar, do ovo, do girassol, minha cor preferida desde menino (embora goste de todas e não tenha exigência de ter apenas objetos e roupas amarelas), pois também se associa ao signo de Leão. Orixá do amor, da beleza, da maternidade, das águas (em especial da água doce, das cachoeiras), Oxum é suavidade e movimento, tranquilidade e ímpeto. As águas representam as emoções, e quem deseja mergulhar num rio deve saber sua profundidade, conhecer trechos em que a correnteza é mais forte. Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, conforme assinalou Heráclito. Muito menos Oxum.
Como toda mulher, Oxum também é segredo, prescinde de suscetibilidades para se fazer conhecer, como a água, em seus caminhos sinuosos. Se mira a própria beleza em seu abebé, também esconde o rosto por trás do filá. E quem conhece plenamente todas as faces de uma mulher?
Deusa da pisada suave, mulher que caminha sobre pétalas, sua dança e seu canto envolvem a todos num Axé de beleza, vitalidade, fertilidade. Suas pulseiras emitem ritmos próprios, femininos. Há diversas qualidades de Oxum (16 são as mais conhecidas), de todas as idades, com diversos símbolos. A Apará, por exemplo, é guerreira e carrega espada, caminha com Iansã e, segundo alguns mais-velhos, metade do tempo é Oxum, e a outra metade, Iansã. Essa espada protege seus filhos de negatividade, enquanto também permite que a guerreira, quando desejar, mire sua beleza na própria lâmina. Há espelhos por toda parte, ainda mais no reino de Oxum.

Mulher-mãe, ensina a importância do resguardo feminino no período menstrual, não porque o corpo esteja sujo, como faz supor uma leitura patriarcal, mas porque se refaz, se recria, purga os excessos e se prepara para o novo. O vermelho, o ecodidé são riquezas que o próprio branco, o funfun, Oxalá usam como adorno, em sinal de respeito ao feminino e a seus ciclos.
Oxum é mãe, mulher, amante, amiga. Tem-me colocado no colo desde sempre. Na maternidade, quando eu era o único bebê do sexo masculino nascido naquele dia; no matriarcado da família materna onde nasci; nos cursos todos em que sou o único homem ou um dos poucos; nas mulheres que tenho amado de inúmeras formas. O feminino sempre está aí para me ensinar algo. Lições de Oxum. Além disso, sua carícia está presente em diversos momentos particulares, em presentes, intuições, sincronicidades que recebo ao longo do dia.
Em meu Mapa Astral há excesso de fogo e nenhuma gota de água. Mas minha mãe Oxum sempre me carrega para perto d´água. Nasci numa cidade em que o rio é famoso, e há uma bela queda d´água na região central do município. Dentre tantos lugares em que morei, todos foram literalmente à beira d´água: em Lavrinhas, SP, às margens do Paraíba; em São Paulo, em frente ao Pinheiros; em Guarapari, ES, e em São Vicente, SP, à beira-mar. Oxum também mora no encontro do rio com o mar, na beira-mar. Por isso Geronimo e Vevé Calazans cantam "presente na água doce, presente n´água salgada" em "É d´Oxum" quando afirmam que toda a cidade de Salvador é desse Orixá.
Alguns também associam Oxum à chuva (outros, a Oxumaré, a Euá etc.). Em minha experiência pessoal, diversos eventos são lavados pela chuva. Em outros momentos, as emoções explodem em encanamentos, torneiras etc. Águas que lavam, curam, purificam. Águas passadas, águas novas.
Oxum é o pano amarelo que abro todas as manhãs na janela de minha alma para dizer à vida que também estou aberto e receptivo.
Minha mãe, minha Ialodê, de quem, além de filho, sou Ogã: meu coração soa por ela como o adjá, ao toque de um ijexá.
Deixa a gira girar!

Dermes

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