sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O Suicida



Texto retirado do blog da minha amiga, ouvinte e colaboradora Cristina Arante

Quando se toma uma decisão como essa, a cabeça parece adormecer e nenhum pensamento racional é criado, o mundo se torna insuportavelmente silencioso e dispensável. Enquanto caminho, consigo apenas ouvir meus próprios passos amassando a lama sob meus pés úmidos. Nesse momento nada me incomoda, não sinto dor, nem mágoas, nem medo, tão pouco remorsos, quero apenas chegar ao fim da rua e dar cabo a minha existência sem sentido. A solidão não me incomoda, afinal foi ela, única companheira nos momentos em que mais precisei de alguém ao meu lado.
Não sei há quanto tempo estou caminhando, mas que importância tem o tempo para mim, se ninguém me espera e não existe futuro algum, ou a menor chance de que algo aconteça e mude meu destino. A garoa é persistente, escorre pela minha face disfarçando as lágrimas de fracasso. Ao longe uma luz tênue me chama atenção porque parece estar dançando ao compasso do vento molhado, esqueço por um instante a lama entre os dedos dos pés descalços e feridos, alcanço, e paro diante daquela vela colocada a margem da estrada vermelha. Uma bandeja com alimentos e uma vela que resiste a chuva, é a única fonte de luz do lugar, e torna quase invisível um homem vestido de preto e chapéu de aba larga, estático, apenas observando aquela oferenda, como que aguardando que algo inesperado aconteça. Ele me ignora, fica em silêncio e não me dirige sequer um único olhar. Sem me incomodar, retomo minha caminhada decidida, nada mais nesse mundo pode me amedrontar, então ignoro o homem que agora me acompanha de perto. Finalmente chego ao final da rua, e posso ver ao longe as luzes da cidade, que nessa hora certamente está dormindo. Basta agora mais um passo, para que de olhos fechados e com coragem, eu alcance as nuvens. O homem de preto está agora parado ao meu lado, mas continua a me ignorar.
Eu:
- O que você quer de mim?
- Por que me acompanhou?
- Nem tente!
- Nada que você possa fazer vai me impedir de saltar!
Ele:
- Não cabe a mim dissuadir você de nada que queira fazer.
- Devo apenas garantir seu direito de escolha.
- Se desistir, irei te acompanhar apenas até onde nos encontramos.
- Se saltar, irei te companhar durante a queda, e garantir que encontres o solo.
- Depois, te apresentarei às portas do inferno, onde seu algoz será sua própria consciência.
Então pela primeira vez Ele me olha bem nos olhos, e de repente comecei a sentir frio e fui tomado pelo medo de morrer. Saí então correndo, e só parei quando o ar me faltou. Com as duas mãos apoiadas sobre os joelhos, olhei para trás, e lá estava ao longe a luz da vela ainda acesa. Não consegui ver o homem de preto, mas eu sabia que ele estava lá....., de pé....., apenas observando.....
Laroiê Exu Tranca Ruas das Encruzilhadas!
Por: Wilson de Omulu

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