segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Repensando as imagens de Exus




Amigos,

É início de ano e estamos, também, iniciando o ano no ArteFolk. Sei que coloquei um texto ontem, mas, na verdade, foi só uma reedição de um texto colocado logo após o natal, pois o considerei importante e poucas pessoas o leram. De qualquer forma, como os Exus sempre são reverenciados primeiro, é com eles que começo as postagens aqui.
O texto não é meu, é do usuário "filho do sol" do Orkut, postado em uma das comunidades. Achei deveras importante suas abordagens e gostaria que todos vocês dessem uma lida com carinho. O texto se chama "Repensando as imagens de Exus" e traz algumas informações importantes sobre nosso "imaginário coletivo" com relação a chifres, rabos e patas de bodes. Aproveitem.

É comum vermos hoje em dia muitas críticas vindas dos umbandistas acerca das populares imagens de exus encontradas nas lojas de produtos afro-brasileiros, espalhadas Brasil a fora. A crítica é de que essas imagens confundem os exus com o demônio católico, visto que a maioria delas caracterizará os guardiões da esquerda com pés de bode, chifres, rabos e outras coisas mais.

A intenção por trás dessa crítica é válida, pois infelizmente persiste o preconceito do senso comum da população, que associa sim os exus da Umbanda com  o diabo e argumentam que tais imagens só reforçariam este estigma negativo.

Porém gostaria de, neste pequeno texto, convidar a todos a refazerem suas leituras destas imagens, partindo, primeiramente, de um entendimento da própria imagem típica do demônio católico. Vamos lá?

O diabo, o “tinhoso” que paira do senso coletivo do povo é a figura de um ser que possui chifres, pés de bode, rabo e portador de um tridente. De onde veio essa imagem do demônio? Certamente da própria Bíblia que não foi, pois em nenhum momento, seja no antigo ou no novo testamento, há referencias a essa imagem.

A igreja católica, no seu ímpeto de impor suas crenças aos mais diversos povos do mundo adotou a esperta tática de ao mesmo tempo assimilar e rejeitar aspectos dos cultos pagãos com que entrava em contato na sua ânsia evangelizadora. Exemplo claro disso é o próprio culto mariano, que segundo historiadores seria um remanejo do antigo culto à Diana dos romanos, que teria sido transformado no seio do catolicismo.

Porém a maioria das antigas divindades foram rejeitadas e algumas  inclusive, passaram a ser associadas com o diabo. A igreja negava totalmente a sexualidade humana, pregando, entre outras coisas, que o sexo era somente válido para a reprodução, e que o prazer era o pecado. O celibato e a castidade tornavam-se virtudes inquestionáveis dentro desta nova mentalidade.

Assim sendo as antigas divindades totalmente sexualizadas foram totalmente rechaçadas, e logo associadas ao demônio. Exemplo clássico desse processo é o deus PÃ, da mitologia grega. Pã era o arquétipo do sátiro, uma divindade brincalhona e selvagem que vivia nos antigos bosques a tocar sua flauta, seduzindo para o coito, tanto lindas mulheres quanto para jovens rapazes. E justamente sua imagem era de um homem chifrudo, com pés de bode e rabinho! E o porquê destes elementos? Justamente porque Pã representava a natureza animal contida em todo ser humano, nos fazendo lembrar que, sim, somos animais! Temos nossos
instintos, incluindo aí o instinto sexual, e justamente por isso Pã, assim como o deus Cernunnos dos antigos celtas e o Exu Orixá dos africanos, era representado com o falo ereto.

Pronto! Logo esses deuses fálicos, antítese do moralismo católico, deram os elementos imagísticos que iriam compor a imagem folclórica do diabo, reforçada na idade média e até os dias hoje presente no imaginário coletivo.

Sendo assim falsa e criminosa é a imagem popular do diabo. Primeiramente, como espiritualistas sinceros, sabemos que não existe nenhuma entidade portadora de todo o mal, seja o nome que se queira dar a ela, muito menos que tenha essa imagem popular erroneamente associada. Portanto nossas imagens de exus, encontradas por aí nas mais diversas casas de artigos religiosos possuem um significado esotérico extremamente profundo, que passa despercebido aos incautos. Basta analisarmos pela ótica pagã: os exus e
pomba giras, como sabemos, representam a energia material e animal, os instintos, os desejos, a sexualidade humana, portanto, são entidades possuidoras dos mesmos arquétipos de Pã, Dionísio, Hermes, Exu Orixá, Cernunnos e tantas outras divindades sexualizadas e portadoras de características antropozoomórficas. Assim como Pã, os pés de bode na imagem de um exu representam a necessidade de, enquanto espiritualistas, não renegarmos nossa animalidade. Sim, pois tão errado quanto sermos joguetes dos nossos instintos é termos a postura hipócrita e falso-moralista de os negarmos, tentando tragicomicamente sermos que nem aqueles anjos barrocos pintados em diversas catedrais, possuidores
somente de cabeças com asas, sem corpo e sem nenhuma ligação material e animal.

A esquerda representa, assim, o lado sexual, instintivo e animal de cada ser humano, sendo uma energia vital para o trabalho espiritual, daí suas imagens serem sabiamente representadas com elementos animalescos, a nos lembrar o próprio arcano XV do Taro de Aleister Crowley , onde uma cabra selvagem, localizada à frente de um enorme falo ereto, está ironicamente sorrindo, nos lembrando que de por mais que idealizemos nossa condição, é impossível a renegarmos.

 Nino Denani

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