terça-feira, 8 de novembro de 2011

Somente Omulu pode salvar seu filho……



Texto retirado do blog da minha amiga e colaboradora Cristina Arante


.... porque ele está com a doença de macaco.
Foram essas palavras que dona Luiza ouviu da negra Judite benzedeira, enquanto segurava o filho de quarenta dias contra o peito. A mãe desesperada já tinha levado o filho recém nascido à vários médicos mas nenhum deles conseguiu diagnosticar a doença do menino.
O último deles, médico renomado da pequena cidade, havia tirado dessa mãe todas as esperanças, e aconselhado que ela aguardasse em casa a partida do bebê. Aos prantos dona Luiza caminhava beirando o trilho do bonde de volta para sua casa, quando foi cercada pela feirante Maria da laranja, que percebera o desespero da mulher. Depois de ouvir o drama em que dona Luiza se encontrava, Maria feirante sugeriu que ela fosse a casa da negra Judite benzedeira, pois era a última chance do filho. Era final dos ano 50, e nessa época lá no interior de São Paulo havia muito preconceito em relação ao espiritismo, que era considerado coisa do diabo.
O filho era pele colada sobre ossos, e dona Luiza teve que vencer seus medos e ir a procura da negra Judite, logicamente escondida do marido que era congregado mariano atuante na paróquia matriz.

Horas de caminhada carregando o filho, e dona Luiza chegou a uma casa muito simples, construída sobre um barranco vermelho, corroído pela erosão. Ela já tinha ouvido falar daquela casa e como todos da região, evitavam a todo custo passar muito próximo, uma vez que alí morava uma mulher que falava com espíritos. O soluço do filho lhe devolve a coragem, então ela sobe os degraus em barro e bate a porta, que se abre silenciosa. Aparentando uns 60 anos, Judite convida a visitante para que entre, pois o caboclo já a havia avisado que ela estava vindo. Enquanto a mãe explicava que o bebê não se alimentava há dias, Judite já com o menino sobre o colo salpica-lhe pipocas sobre a cabeça, enquanto recitava uma fala estranha. Sobre a mesa de vime surrado havia um prato com arroz cozido, Judite coloca uma colher daquele alimento em sua boca, e depois de bem mastigar vai colocando na boca do bebê que começa a se alimentar com dificuldade. Em prantos dona Luiza vê o filho reagir depois de dias, e ouve que o filho tinha doença de macaco, incurável para os homens de branco, mas que os caboclos sabiam como curar. O ritual deveria ser repetido por quatorze dias, mas já no décimo dia o menino buscava sozinho o arroz na boca de Judite, que se divertia com a recuperação do menino.
No décimo quarto dia, como previsto por Judite o marido católico de dona Luiza a acompanhou até a casa da benzedeira, agradeceu muito, e ouviu uma frase estranha que nunca pôde compreender:
- Não agradeça a mim pois nada fiz. Agradeça ao Pai Omulu que deu o alimento que curou seu filho, e aos caboclos que trouxeram sua mulher até aqui.
Dona Luiza nunca mais retornou àquela casa em cima do barranco, mas toda vez que por lá passava, pedia a Deus que iluminasse aquela operária dos Orixás.

Atotô meu Pai Omulu
Por: Wilson de Omulu
Nota: SEMIOTO, popularmente conhecida como doença de macaco, mata por desnutrição, uma vez que a criança recém nascida não consegue se alimentar.

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